5.1.14

O café e o cappuccino

"Ela se sentou na cafeteria e fez um joguinho, pra escolher entre o café e o cappuccino. 'Uni duni tê/ Salamê minguê/ O sorvete colorê/ Escolhido foi você.' e não decidiu. Quando a garçonete chegou e quis saber o que ela queria, pediu os dois. Por quê se contentaria com um só?
E foi ai que começou a pensar. O engraçado é que quado começamos a pensar no chuveiro, pensamos na origem da vida e do universo. Mas em que pensamos na cafeteria?
O café e o cappuccino chegaram e ela olhou para a fumaça que saia de cada xícara. Em alguns momentos as duas fumacinhas se uniam, em outros, elas estavam distantes uma da outra. E foi nisso que ela começou a pensar. Em como duas vidas se cruzam e se afastam, repentinamente, como fumaça de café. A fumaça fica mais densa quando as duas se unem. Isso é o mesmo com duas pessoas. Unidas, elas ficam melhores, mais radiantes. Separadas, elas apenas estão ali, como uma fumaça qualquer.
Ela deu um gole no cappuccino e notou que o desenho na espuma se desfez. Ela pensou 'É isso que acontece, realmente'. Uma simples ação, pode desmanchar uma coisa tão bela.
Ela tomou um pouco do café, com um sorriso travesso nos lábios. No final das contas, ela queria ter de decidir qual dos dois tomaria. Na vida, tudo é assim. Não podemos ficar em cima do muro. Não podemos contar com as duas coisas, porque nesse tempo em que se aproveita das duas coisas, as duas podem desaparecer ao mesmo tempo.
Ela olhou para o café e para o cappuccino. Pensou nos dois como pessoas. O cappuccino foi receptivo, deixou que ela o provasse e ainda permitiu que roubasse um pouco de sua beleza.
O café também foi receptivo e lhe proporcionou um aroma divino. 
Ela sorriu, enquanto chegou a sua conclusão. Aproximou a xícara de cappuccino de si e empurrou a de café para a outra ponta da mesa. O motivo de sua escolha foi: Ela teve a oportunidade de provar dos dois, mas achou melhor ficar com quem perderia mais se ela escolhesse o outro. O café perdeu um pouco de quantidade, mas ele sobreviveria sem ela. Ele poderia continuar atraindo outras pessoas.
O cappuccino perdeu sua beleza acreditando em uma escolha certa, pulando de cabeça. 
Ela terminou de beber seu cappuccino, contente. Ela não tinha certeza de que havia feito a escolha certa, mas escolher foi o suficiente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©